Há muito tempo que não tenho o privilégio de contar com um comentário neste blogue de J.J.J.. Recomendo vivamente o que escreveu em armaçãodepera.blogspot.com sobre “Ser ou não ser candidato a melhorar realmente, eis a questão (I e II) …”.
Neste contexto, e com a devida vénia, gostaria de citar o que um “CITADOR SAID …” escreve sobre “O poder clientelar”. Obrigado J.J.J.
O PODER CLIENTELAR
É um irritante lugar comum dizer que a tragédia e a comédia andam na História de braço dado, mas a verdade é que o rebuliço gerado desde a suspensão de um funcionário da Câmara Municipal de Silves pela Presidente Isabel Soares, em Julho passado, por alegadas irregularidades cometidas em obras na área de actuaçãodesse funcionário é um exuberante exemplo.
Espantar-se-á muita gente que eu tenha algo a dizer a propósito do caso que, ultimamente faz recair sobre o Concelho de Silves uma curiosidade inusitada, infelizmente pelas piores razões menos desejáveis. Mas devo começar por esclarecer que, nada me motiva a pronunciar-me sobre o caso que agora é propalado pela imprensa regional e nacional, bem pelo contrário. Quanto a mim, mais importante que tentar apurar a verdade – que a nenhum Silvense escapa -, é a necessidade de fazer um juízo político sobre uma situação que, por ser comum à maioria dos concelhos portugueses, representa a evolução negativa, em curso há muitos anos, das condições do exercício do poder local. A relação crescentemente clientelar estabelecida desde 1997, entre o sistema de poder construído na autarquia silvense e um conjunto cada vez mais largo de forças vivas, e não só, colocadas na sua dependência, acabou por perverter os mecanismos normais da representação democrática e assegurar a Isabel Soares uma espécie de blindagem contra qualquer alteração eleitoral. Criou ainda um caldo de cultura em que foram crescendo os sentimentos de impunidade, e até de prepotência, onde predomina, nos actos da administração, uma opacidade propícia ás suspeitas do tipo daquelas que estão hoje em causa e que no mínimo deveriam merecer grande atenção por parte do novo PGR e especialmente, por parte do «Padrinho» Presidente da República, após o que disse sobre a matéria, no dia 5 de Outubro.
Mas como ia dizendo, o caminho para chegar aí foi associável a uma prática política em que a venalidade dos processos, que facilmente deparou com condescendência e com cedências calculistas, degenerou e resvalou para processos com configuração de corrupção política, em que as diversas forças e outros se deixaram comprometer. Foi o primeiro passo a partir do qual foi muito difícil encontrar vontades, para propor, quanto mais conseguir, a inversão da marcha. O processo foi progressivo, até mesmo «suave», em direcção a um falso unanimismo feito de silêncios e de isolamento das resistências. Saliente-se que este risco, em que incorre o poder local silvense por se ter instalado um clima político de demasiada facilidade, não é alheio ao caso hoje muito badalado e a outros casos.
Silves é um concelho que até conheceu alternância autárquica. Nunca ninguém havia conseguido três mandatos seguidos e essa não é habitualmente uma situação de efeitos perversos. De resto, desde que o PIS (Partido de Isabel Soares) venceu à justa as primeiras eleições, há 9 anos, as forças à sua esquerda conferiram-lhe sempre margem de manobra para se consolidar e se transformar repetidamente
Quando a actual titular do cargo de Presidente alcançou a primeira vitória em 1997 iniciou a fase da passagem à maioria absoluta secundarizando progressivamente o papel do seu próprio partido o que acabou por significar a busca deliberada de um clima de unanimidade em torno da sua figura e do seu poder.
Entre a Oposição e o Poder dominante, de Isabel Soares, parece que se desenvolveu de resto um sintomático processo de osmose, com apoios a um poder cada vez mais forte e uma ideia de que as fronteiras partidárias se apagavam em face de uma nova maneira de liderar o concelho. Estava cumprido um ciclo, que não é caso único nas autarquias mas que raramente acaba bem. A partir desse ponto começaram os estragos conhecidos: um menosprezo aberto pelas oposições, a exasperação progressiva dos excluídos, os conflitos despidos de ideias alternativas e as acusações sistemáticas de abusos de poder e de suspeitas de corrupção. O paroxismo de há muito insustentável deste conflito difícil de imaginar, no actual figurino, um recuo para uma situação de normal convivência democrática.
Mas as situações aparentemente sem saída são por vezes as que nos obrigam ao encontro dos sinais de esperança.
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